5 de nov. de 2009

Lua de Agosto

Estava aquela lua luminosa luminescente luarenta como apenas a lua sabe ser, diminuindo a olhos vistos a cada noite que passava, mas mesmo assim luando, essa lua luzente e lúcida. Olhávamos a noite que a lua beijava e luava, uma noite alumiada de prata, a cada noite menor e mais escura mas mesmo assim cintilante. O bulício lá longe das feiras e das farturas e das animações nocturnas obrigatórias de Verão, e nós na lua, que nos aluava serena. O presente alumiado de luz de prata e passos vagarosos, preguiçosos e felizes em direcção a um futuro que é agora. A lua, que disto sabe, alumiava-nos devagar e cada vez menos, minguando a sua luz sobre nós e sobre o mar e a areia e também sobre as farturas e as tendas das vendas de pulseiras de missangas e panos bordados, panos de praia, t-shirts chinesas e ciganas das fábricas do norte, carrinhos de choque e crianças lambuzadas de algodão doce e pão-com-chouriço. Aquela lua parecia só a nós chegar, cada vez mais pequena, antevendo um segredo negro de opacidade plena quando se fosse de vez para lua nova, empurrando-nos para a escuridão depois de nos ter aluado em estado de graça. A lua, sábia, a cada noite menos lua, que nos mostrava primeiro o seu reflexo nas águas macias de Agosto, para depois nos conduzir ao negrume abençoado, despojado de luz e lua, que nos faz recolher e ver que, logo a seguir, a lua volta a nascer, linda e luzente, derramando a sua prata nas águas macias de Agosto, e depois de Setembro e do resto do ano e do ano a seguir, lembrando-nos do ciclo infindável da vida que não pára e não nos deixa parar os passos vagarosos e felizes em direcção a um futuro que é agora. Lua quieta de Agosto de prata e noite, espargida de viço e brilho ameno.

11 de Agosto 2009

Nenhum comentário: