Cansada de tanto nadar, descansou a cara na areia fresca deixando que os olhos se banhassem na água salgada, cardumes de peixes cor-de-prata nadando por perto, estrelas do mar tecidas nos cabelos negros espalhados à luz da lua.

Olho e já não vejo a ondina deitada na espuma das ondas, de cabelos negros espalhados nos seixos brilhantes à luz da lua quebrada pelas núvens negras e o vento norte.
A praia serena, molhada pelos beijos frescos das ondas de espuma e sal, devolve-me a paz na certeza de um dia sonhar este sonho outra vez. Olho para baixo e vejo os meus pés, verniz vermelho escamado nas unhas e falta de creme nos calcanhares. Queria ver escamas de prata e gotas de água fria, areia molhada numa poça debaixo de mim, mas o chão devolve-me os desenhos geométricos e as cores triplas do tapete persa e as minhas sandálias espalhadas de um lado e outro dos meus pés humanos.
Foi-se a ondina com as ondas da praia e ficou o desejo do sonho da costa sonhada que nunca existiu.