30 de mai. de 2011

Mas não

Há rochas porosas, miríades de pequenos buracos e imperfeições, de tantas que são impossíveis de contar. Rochas, no entanto, calcárias, esboroáveis em nada, pó do pó até ao nada. Outras rochas há impossíveis, calcárias na superfície, basálticas no âmago, parecem esboroar-se com a erosão do amargo, das intempéries, dos arremessos agressivos do tempo e dos dias, mas não. Rochas, pequenas que sejam, mas duras e resilientes, até parece que se vão desfazer com mais um vento agreste, assopradas, vergastadas, caem dos rochedos lá no alto e pensam que se vão estilhaçar em mil, mas não. Embate brutal, uma vez após outra, ou erosão vagarosa das idades que passam, e pensam-se esboroadas em nada, pó do pó até ao nada -  mas não.


Rochas que crescem, camada após camada depois de desfeitas em pó do pó até ao nada, adubadas pela nortada, nutridas pela espuma das ondas, crescem as rochas altaneiras, seguras, persistentes até ao fim. Cordilheiras de vida, florestas e rios e pessoas que lhe crescem em cima e nelas vivem sem se esboroarem em nada, pó do pó até ao nada, vida renascida em cada lágrima e doce sombrear da voz numa prece serena, numa promessa de amor, num lamento, num riso cristalino de esperança renascida todos os dias, mal o sol desponta no horizonte. Eram para não ser - mas são.