11 de nov. de 2009

Pip, ou o sentido literal do dever


Dizia há anos atrás o Pedro Abrunhosa que mais não podia fazer senão pip. Ou talvez pip, enfim, era uma condicionante, ao que parece.

Pip é uma palavra proscrita e que, entre outras coisas, pode dar azo a processos disciplinares e à expulsão liminar do facebook. Mas impõe-se a reflexão: que fazer senão pip? Páro por uns minutos e reflito na ‘produtividade das minhas acções do quotidiano. Dormir, acordar, trabalhar, comer. Pensar, pensar demais e sentir, por vezes de menos. E é tudo. Um mundo imenso e cheio de pessoas a falar e a dizer coisas a toda a hora, como eu estou a dizer agora, porque sim, porque me apetece. Uma confusão de carros a passar e buzinas e o roncar dos autocarros e lá no meio se conseguem ouvir as cigarras, sábias, que nos olham do cimo das árvores com pena do bulício em que vivemos, formigas constantes da vida constante e certa e segura, nos carreiros casa-trabalho-casa-praia-c
asa-trabalho-casa-dos-sogros-casa-praia-férias encaixotadas-casa.

Bem, pronto, concedo que há tanto que fazer que às vezes nem pip se pode. Por excesso de cansaço, ou falta de parceiro, ou de vontade, ou porque se piperia melhor com outro que não este agora aqui à mão de semear e que já viu melhores tempos ainda a verve lhe corria nas veias.

Mas não, pensando melhor, no pip é que está o ganho. Gastam-se as calorias, empinam-se as barrigas, toxinas fora do corpo, uma ginástica emocional e física que só tem ganhos e prejuízos quase nenhuns. Melhor pip que ir à praia, por exemplo. Pip na praia, então, ainda melhor. Muito melhor pip que ir trabalhar, ou voltar para casa para o jantar obrigatório às 8h00 em ponto. Muitíssimo melhor pip que ir a casa dos sogros e quem não substituiria as férias encaixotadas por uma sessão de pip contínuo tendo por único cenário umas cortinas brancas transparentes translúcidas e um final de tarde morno e de brisa corrente. Quais sogros. Quais miúdos e mais os seus trabalhos de casa, quais contas para pagar e IVA de 3 em 3 meses, qual trabalho que depois de estar todo imaginado e pensado lá vai correndo em entediante velocidade de cruzeiro, as vazas do crescimento e da mudança cortadas permanentemente pelo chefe, seja ele qual for que, está mais que óbvio, pip é coisa que não faz.

Pipo, logo vivo. Pensamento animalesco, este, que me cola à terra por baixo das pedras da calçada, baixada que sou à condição sub-humana de bicho que mexe e come e pip e já agora anda no carreiro para trás e para diante para que o estado recolha os impostos sobre o rendimento e o gaste no TGV e nas auto-estradas excedentárias por onde ninguém anda e nos estádios e essas coisas que toda a gente fala e diz mal mas ninguém vai lá rebentar bombas com cintos de dinamite e ideal pendurado ao peito, missal de vontades, intenções e mudança radical para este Portugal onde se pip tão bem e tão mal se vive.

Talvez pip, na verdade. E com esta é que eu me pip. Adeus facebook, tudo indica – que se pip!

5 de Agosto 2009

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